ARTIGOS

Reflexão sobre a perfeição do homem

“Alguns dizem que a perfeição cristã é possível; outros acham que não. O que diz a Bíblia sobre isso?”

Pastor Ricardo Sorrentino

Pr. Ricardo Sorrentino

No Antigo Testamento, as palavras “perfeição” e “perfeito” procedem do termo hebraico tam ou tamim, cujo significado é “completo”, “correto”, “cheio de paz”, “sadio”, “inteiro” ou “sem mancha”. No grego, de modo geral, o termo teleios quer dizer “completo”, “perfeito”, “plenamente crescido”, “maduro”, “plenamente desenvolvido”. Ou seja, o “que atingiu o seu propósito”.  Noé, Abraão e Jó, no Antigo Testamento, foram tidos como perfeitos ou sem mancha, conforme as seguintes passagens: Gênesis 6:9; 17:1; 22:18; Jó 1:1 e 18. Eles, contudo, tiveram imperfeições (Gênesis 9:21; 20; Jó 40:2-5.)

E qual é o conceito de perfeição em o Novo Testamento? Qual o padrão dessa perfeição? Jesus disse: “Portanto, sede vós perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.” (Mateus 5:48). Ele acabara de falar sobre o amor em sua dimensão espiritual, o amor de uma pessoa amadurecida, capaz de amar não só os amigos como também os inimigos. A perfeição, segundo o Novo Testamento, é um apanágio de pessoas amadurecidas. Por exemplo, não ser “meninos no juízo”, mas “homens amadurecidos” (1 Coríntios 14:20); esquecer “as coisas que para trás ficam” e prosseguir “para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:13-15); e pessoas adultas, cujas faculdades são “exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hebreus 5:14).

Deus considera perfeita toda pessoa que se submete a Ele plenamente, adorando-0 e servindo-0 de todo o coração. Logicamente, tal pessoa é perfeita na esfera finita, assim como Deus o é na esfera infinita. É por meio do Espírito Santo que recebemos a perfeição de Cristo. Seu caráter toma-se nosso pela fé. A perfeição, portanto, não é um dote interior, mas um dom que nos é concedido. Assim, ninguém pode pretender a perfeição independentemente de Cristo. Jesus afirmou: “Quem permanece em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer” (João 15:5). Por meio de Cristo, a sabedoria, a justiça, a santificação e a redenção (1 Coríntios 1:30) se tomam a nossa perfeição. Cristo é a nossa perfeição. Quando O temos no coração, temos a Sua justiça, que passa a ser o nosso manto, as nossas vestes, que foram confeccionadas pela vida, morte e ressurreição de nosso amado Salvador.

A esta altura, a pergunta que muitos fazem é a seguinte: Qual é nosso papel no desenvolvimento da perfeição? Ora, quando uma pessoa é justificada, é declarada justa por Deus mediante a fé que ela depositou em Jesus. É perfeita em Cristo. Portanto, nosso título para o Céu repousa sobre a justiça de Cristo apenas. Mas o plano de Deus é mais amplo: Ele provê, por meio desse título, a nossa habilitação para o Céu. Como? Através de Cristo, que vive em nosso coração. De acordo com LaRondelle, essa habilitação precisa ser revelada no caráter moral do homem, como evidência de que a salvação ocorreu. Por isso Jesus disse: “Quem permanece em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto” (João 15:5). Esse “fruto” é próprio de uma pessoa amadurecida espiritualmente. É claro que ela não pode estacionar, pensando que já alcançou a estatura completa. Quando o apóstolo Paulo disse “prossigo”, estava afirmando que a vida cristã é dinâmica, é um processo contínuo. Prosseguir, então, é ter Cristo continuamente no coração e permitir que Ele realize em nossa vida a obra da santificação. Nossa parte é permitir que Deus opere em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a Sua vontade” (Filipenses 2:12 e 13).

Nosso papel, portanto, é permitir a habitação de Cristo em nosso interior. Este é o segredo para alcançarmos a maturidade espiritual. Devemos pedir e aceitar de bom grado os dons divinos, para nos desenvolvermos até atingir a “perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13). Não devemos permancer como meninos, que se alimentam de leite, mas buscar a vida adulta, preparando-nos para receber o “alimento sólido”, preparado para os cristãos amadurecidos (Hebreus 5:14). Precisamos entender, no entanto, que a perfeição última não se encontra à nossa disposição agora. Sim, podemos ter a perfeição agora, mas somente em Cristo. Mas a plenitude dessa perfeição só será alcançada quando formos glorificados na ressurreição ou quando formos transformados vivos, antes de nossa trasladação para o Céu. Paulo aspirava ao dia em que alcançaria a perfeição plena. Disse ele: “Gloriemo-nos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:20). Uma prova de que ele não havia ainda alcançado tudo pode ser vista em suas incisivas palavras:

Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:12-14).

Embora perfeitos em Cristo agora, devemos prosseguir até que ocorra a nossa transformação criadora final, quando o Espírito Santo restaurar a criação original. Somente então, nós nos apossaremos da incorruptibilidade e da imortalidade